Filme "Rua de mão dupla"

O post de hoje é sobre o filme "Rua de mão dupla". Ele mostra um experimento em que duas pessoas que não se conhecem trocam de casas por 24 horas. Elas gravam sua estadia nessa casa do outro e depois comentam sobre quem elas acham que é o dono da casa e como foi a experiência. O filme me fez pensar em como é íntimo viver na casa dos outros, sentir a presença do outro mesmo quando ele não está fisicamente ali.


Um dos participantes disse que não conseguiu se sentir em casa, pois parecia que faltava algo e até era repressivo. Esse estranhamento aconteceu com todos os personagens e, pra mim, é uma coisa recorrente também, como se você estivesse invadindo um lugar que não é seu ao explorar a casa do outro. É aquela situação em que você não consegue ficar totalmente à vontade. Como os personagens não se conheciam, viver na casa do outro foi uma forma de conhecer o outro por meio das suas coisas, dos seus gostos, dos seus barulhos, dos seus cheiros e do seu espaço. Eu achei engraçado que os pares não se conheciam, mas ao atender o telefone, no primeiro experimento, o homem diz que era um "conhecido" da dona da casa e passaria o recado. Isso porque ele sabe que não conhece ela profundamente, mas, de certa forma, ele também conhece, pois está na casa dela e tudo aquilo é uma parte dela que ele pode tentar desvendar. 

Os registros das vivências nas casas trocadas também foram bem subjetivos. Eu gostei dos enquadramentos que mudavam e davam zoom, pois isso fazia com que se perdesse um pouco a noção de escala. Então, às vezes, não dava pra saber se as casas eram grandes ou pequenas. Além disso, os zooms davam ênfase nos detalhes - que certamente passariam despercebidos se fosse uma visita "normal"- e, como um dos personagens disse, "Cada detalhe realmente é uma história." Tais detalhes eram pistas para tentar imaginar como era o dono da casa e, a partir daí, eles criavam uma imagem mais ou menos delimitada de quem seria. A própria forma de registrar também refletia um pouco as personalidades das pessoas: alguns falavam enquanto gravavam - com uma personalidade mais extrovertida -, outros ficaram um silêncio o tempo todo - eram mais sérios. Alguns gravavam rapidamente uma cena, outros se demoravam mais nos detalhes. 

Enfim, eu achei o experimento bem legal e acho que deve ser divertido fazer esse tipo de deslocamento. Fiquei pensando como seria se eu trocasse de casa com alguém. O que será que essa pessoa ia deduzir sobre mim? Será que eu ficaria à vontade para usar a casa dela? Então, conclui que esse tipo de experimento deve dar mais certo quando as pessoas moram sozinhas, pois em uma casa com muitas pessoas há referências e marcas de todo mundo, quer dizer, aquele espaço reflete todo o grupo - ou pelo menos devia ser assim. 

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