Análise Hertzberger: hipercentro de Belo Horizonte

Para esse trabalho, meu grupo foi formado pelo Aloísio, pela Rafaelly, pela Júlia, pela Miriã e por mim. Nosso trajeto começa na Praça 7 de Setembro, segue pelo calçadão leste da Rua dos Carijós, converge na Rua Espiríto Santo, segue na Av. Afonso Pena no sentido para o Parque Municipal até o lote triangular entre a avenida, a Rua dos Tamóios e a Rua Bahia. Então, passamos pela galeria da passagem Y e seguimos pelo Viaduto Santa Tereza, findando o percurso na Serraria Souza Pinto. Nós analisamos esse percurso com os conceitos desenvolvidos pelo arquiteto holandês Herman Hertzberger no livro "Lições de Arquitetura". 

Partindo da Praça 7, podemos perceber a aplicação do sistema de grelha como ordenamento da cidade. Como Hertzberger comenta no livro, ao invés de conduzir à monotonia, esse sistema pode ser estimulante de diversidade graças a novas soluções criadas a partir das limitações da grade. Exemplo disso são as 8 construções de conformação triangular que circundam a praça e criam uma diversidade  na composição da cidade através da variação de alturas e larguras.


O obelisco da praça e o espaço ao seu redor muitas vezes são apropriados de maneiras diferentes das suas funções originais e, assim, acabam se tornando encostos, assentos ou palanques informais a partir da vivência cotidiana. 

O calçadão leste da Rua dos Carijós é um trecho exclusivo para o trânsito de pedestres. Ele representa uma boa articulação entre o espaço público e o espaço privado por meio dos comércios que utilizam a rua para colocar mesas e cadeiras. Nessa situação, podemos ver a relativização entre público e privado e como isso muda a percepção do usuário sobre a responsabilidade de manutenção desses lugares. 

No quarteirão da Rua Espírito Santo é possível observar outros aspectos que se relacionam com o livro. Ao falar do espaço habitável entre as coisas, Hertzberger chama atenção para as irregularidades da cidade que ganham novos usos e articulações através da vivência cotidiana. Assim, qualquer superfície plana disponível tende a ser usada como bancada, apoio, assento ou encosto, explorando ao máximo as possibilidades de uso desse espaço. Contudo, ele também diz que, muitas vezes, esses novos usos cotidianos desagradam e, por isso, são desenvolvidas maneiras de evitá-las, o que seria a chamada Arquitetura Hostil, ainda que ele não use essa expressão no livro. Isso pode ser observado na seguinte superfície no cruzamento entre o calçadão e a Espírito Santo.


Também podemos perceber as demarcações territoriais definindo graus diferentes de acesso. A primeira imagem mostra a fachada de um banco com vidro fumê refletivo, o que passa a sensação de um acesso mais restrito quando comparada com a demarcação da segunda agência, que usa vidros transparentes na fachada.

 

As entradas dos edifícios abaixo mostram diferentes graus de articulação entre público e privado. O primeiro edifício tem os mesmo espinhos hostis na bancada das jardineiras, um material brilhante e grades nas portas, uma configuração que contrasta bastante com a acessibilidade da rua. Então, é uma demarcação bem clara do espaço privado. Já o segundo edifício, ainda que tenha vidro cercando-o, tem uma entrada mais gradual. Essa sensação se dá pelo uso do mesmo material na calçada e no pavimento desta entrada, representando uma continuidade do público - a calçada - para o interior desse espaço privado. Além disso, a portaria mais ao fundo e a vegetação também tornam a transição público-privado mais suave. Um outro aspecto dessa construção é a rampa íngreme de entrada-saída do estacionamento que Hertzberger cita como um exemplo de solução que é muito específica e que muito dificilmente se adapta a novas situações de uso, ou seja, não é polivalente.


 


Saindo da Espírito Santo e continuando na Afonso Pena, chegamos até o quarteirão triangular entre essa avenida, a Rua Bahia e a Rua Tamóios. Nela existe a passagem Y, uma galeria criada a partir de um anexo entre os prédios Sulacap e Sulamérica. Originalmente existia um vão entre esses prédios que era preenchido por uma praça.


      


Analisando segundo Hertzberger, o projeto original dos edifícios era um bom exemplo de articulação entre o público e o privado: os prédios de uso misto, residencial e comercial, eram estruturas essencialmente privadas, mas que dialogavam muito bem com o espaço público por meio da praça entre eles, que era usada como um lugar de passeio, além de proporcionar uma conexão visual entre a Avenida Afonso Pena e o Viaduto com a outra parte da cidade. Entretanto, a construção do anexo entre eles acabou “abafando” esse espaço público e aumentou o caráter privado do conjunto, pois a galeria só pode ser utilizada pelos pedestres em horário comercial e não é tão polivalente e convidativa quanto a antiga praça.


O Viaduto Santa Tereza é uma estrutura polivalente, pois, sem necessidade de grandes alterações ou modificações, pode acomodar várias funções. Além de dar passagem ao fluxo de veículos, ele também pode servir de ponto de encontro para manifestações e suas muretas, muitas vezes, são apropriadas informalmente como assentos e apoios. O grafite, muito comum no viaduto e na parte inferior dessa estrutura - em frente a serraria -, é um exemplo de demarcação por parte dos usuários desta área aos olhos dos outros. Dessa maneira, a arquitetura é usada como um instrumento de afirmação da identidade dos usuários, no caso, muitos rappers e jovens, haja vista que várias competições de rap acontecem debaixo do viaduto.


Viaduto Santa Tereza e conjunto Sulacap Sulamérica ao fundo.

Batalhas e a apropriação através do grafite.

Para terminar o post, eu queria dizer que gostei muito do trabalho porquê, apesar de eu já ter ido em BH algumas vezes, não conheço praticamente nada do hipercentro e foi muito legal descobrir tantos lugares. (Já quero visitar tudo quando essa pandemia acabar!) Também gostei muito do livro e acho que esse exercício de aplicar os conceitos na nossa realidade ajudou muito a absorver as lições.

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