Nossas imagens - Vilém Flusser
O texto "Nossas imagens", de Vilém Flusser, foi muito esclarecedor. Sua leitura permitiu o entendimento mais claro da palestra "Imagem Televisiva e o Espaço Político" do próprio filósofo. No texto, Flusser explica os conceitos que desenvolveu na palestra e retoma a questão da dialética entre imagem (imaginação) e escrita linear (conceituação). As imagens seriam cenas que orientam os indivíduos sobre o mundo, mas também se colocam entre o indivíduo e o mundo. Essa barreira da imagem se tornou tão forte que o caráter orientador ficou ameaçado e, por isso, foi criada a escrita. O objetivo desta era explicar as imagens. Contudo, a própria escrita foi se tornando cada vez mais distante das imagens, passando a trabalhar em sua própria dialética interna. Logo, a escrita também afastou-se da experiência concreta. Todo esse desenrolar já havia sido trabalhado na palestra, porém no texto o encadeamento dessas ideias foi mais lógico para mim. Na minha opinião, o filósofo estabelece uma "disputa" entre escrita linear e imagem sem defender um dos itens em específico. Sua tese principal, na verdade, seria a de que, diante de tudo isso, acontece um outro movimento: a contrarrevolução de imagens contra textos. Seu resultado são as tecnoimagens, que são imagens pós-alfabéticas produzidas por aparelhos que, por sua vez, são programados de acordo com textos. Assim, as tecnoimagens são instrumentos para tornar imaginável a mensagem dos textos. Entretanto, nós não temos a capacidade de decodificar essas tecnoimagens e isso é o que caracteriza nosso estado de pós-história. Tal explicação fez com que eu compreendesse melhor porque ele diz na palestra que a política passa a acontecer para ser captada na imagem.
Com isso eu reflete sobre as questões que tinha levantado:
1- Minha primeira questão era sobre a espécie de disputa que ele estabelece entre imagem e escrita, as quais eu via como complementares no entendimento do mundo. Lendo o texto eu percebi que disputa não seria a palavra adequada, já que ele não está defendendo uma em preferência da outra, nem fazendo juízo de valores entre elas. Ele apenas estabelece uma relação de dualidade entre a imagem e o texto (não adota a defesa de uma parte). Além disso, Flusser chega a escrever sobre a dialética entre elas, dizendo que uma não deixou de se desenvolver diante da outra e, de certa maneira, cita a complementaridade delas na forma das tecnoimagens, visto que essas são a transcodação de sintomas e história.
2- Eu discordei de Flusser quando ele disse na palestra que a imagem se distancia da política, pois ao vê-la de fora, afastada, mostra vários pontos de vista possíveis e nenhum é o certo. Depois de ler o texto eu percebi que ao dizer que a imagem se afasta da política, ele estava se referindo a barreira que a imagem pode ser entre o mundo e o indivíduo. Sob essa óptica, a imagem afastaria o indivíduo do público e, consequentemente, da política. Logo, o raciocínio de Flusser é bem coerente com sua visão que define a política como dialética entre público e privado. Eu tinha discordado da colocação por avaliá-la usando um entendimento de política que é mais comum no dia a dia atual, uma visão que considera a diversidade de pontos de vista e de experiências central para uma política mais democrática.
3- Na terceira questão eu relatei que esperava que ele desenvolvesse mais a questão da imagem televisiva. No texto esse ponto é bem trabalhado e ele chega até mesmo a escrever como as tecnoimagens são lançadas no espaço privado pela televisão, assim como eu tinha levantado o ponto em que as TVs funcionam como pontes entre público e privado. Desenvolvendo a questão, Flusser diz que a televisão é um grande aparelho que se nutre de sintomas e de história em vários níveis, para transcodar essa matéria-prima em tecnoimagens e irradiá-las.
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