Helvética e La Antena
Eu adorei assistir "Helvetica" (2007) porque a discussão sobre a tipografia e o design é muito boa, além de trazer entrevistas de designer e tipógrafos com diferentes pontos de vista. O que eu mais gostei foi o enquadramento e a forma que as cenas foram gravadas, a câmera estava posicionada de uma maneira que os textos e os tipos tinham destaques principais e, apesar de estarem incorporados na cidade, eles eram vistos de uma perspectiva diferente. Um dos entrevistados comenta que os tipos são como o perfume da cidade: não notamos no dia a dia, mas se sumissem faria muita falta. Ele disse isso enquanto apontava para os textos esparramados nas superfícies das ruas e eu achei fantástica essa analogia, pois de fato eu nunca tinha parado para reparar nos textos da cidade da forma que eles foram mostrados no documentário. Logo na entrada, há cenas de um tipógrafo montando a sequência da palavra HELVÉTICA com tipos, isto é, caracteres em relevo que permitiam a impressão. Essa composição manual é bem tradicional e me trouxe uma lembrança muito boa: meu avô materno tem uma máquina de personalização que tem vários tipos como os do documentário. Não são helvética, mas o manuseio é o mesmo ilustrado pelo tipografo, quando eu era pequena costuma brincar com eles. Meu avô guarda a coleção até hoje e, por isso, consegui tirar algumas fotos de alguns.
Voltando para o documentário em si, um dos primeiros entrevistados afirma que "as letras expressam um estado de espírito, dão certa característica as palavras". Eu concordo demais com essa tese porque uma mesma palavra em diferentes fontes transmite mensagens totalmente diferentes. Um recado, por exemplo, em caligrafia manual de traço fino pode transmitir uma sensação de delicadeza e intimidade, enquanto o mesmo texto em caixa alta e negrito pode passar a ideia de urgência. O documentário conta sobre a história da fonte Helvética, um pouco da sua criação e como esse tipo se tornou tão comum. Ela teria surgido em 1957, seguindo o estilo da tipografia suíça. Era racional, equilibrada, clara e limpa. Todas essas características fizeram um que Helvética fosse um grande sucesso: a fonte transmitia os ideais modernos, era legível e direta - tudo que os designers queriam naquele contexto, aonde os tipos de caligrafia manual ainda dominavam e havia um senso de responsabilidade social do design na reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial. Assim, o tipo Helvética foi revigorante e passou a ser usado em tudo. Segundo Lelis Savan, corporações e governos usam esse tipo porque eles os faz aparecerem acessíveis e eficientes. Erik Spiekerman ressalta que muitas marcas usam Helvética, o que acaba resultando em uma mesmice. O ponto é que, impulsionado pela difusão dos computadores, essa fonte se torna onipresente nos espaços. Até que por volta da década de 70, o movimento pós-moderno começou a contestar o tipo Helvética. Eles eram contra a uniformidade, a limpeza e organização dessa fonte, queriam mais vitalidade.
Assim, os entrevistados vão contando suas experiências com Helvética e o impacto dela no design e na comunicação geral. Um deles diz que gostava de fazer o tipo se mostrar de diferentes maneiras. Acho que essa frase é uma síntese de todo que o documentário quer passar, ela trata da exploração da fonte e do design em geral e como tudo isso é importante no nosso dia a dia.
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