Pierre Edouard Léopold Verger (1902-1996) foi um fotógrafo, etnólogo, antropólogo e pesquisador francês que viveu grande parte da sua vida na cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, no Brasil. Ele realizou um trabalho fotográfico de grande importância, baseado no cotidiano e nas culturas populares dos cinco continentes. Além disto, produziu uma obra escrita de referência sobre as culturas afro-baiana e diaspóricas, voltando seu olhar de pesquisador para os aspectos religiosos do candomblé e tornando-os seu principal foco de interesse.
Sua obra é muito extensa e variada, podendo ser visitada pelo site de sua fundação. Lá, está disponível uma fototeca muito completa. Para sintetizar um pouco do seu estilo de fotografia, nós escolhemos as duas obras seguintes.
Sikasso - Mali, 1936
Essa fotografia traz em primeiro plano duas rochas, que parecem os contornos de dois rostos humanos aproximando-se. Ao fundo é possível distinguir as silhuetas de árvores e algumas pessoas. O contraste entre claro e escuro é muito presente na obra de Verger e foi o que mais me chamou atenção nessa foto.
INITIATION, CAMDOMBLÉ OPO AGANJU
(Salvador, Brasil), 1972-1973
Essa fotografia representa o interesse de Verger pelo Camdomblé. A imagem traz em primeiro plano um indivíduo que parece não perceber que está sendo clicado - a espontaneidade é um traço comum nas fotos de Pierre Verger, ele parece capturar momentos simples do dia a dia, mas únicos. O jogo de luz e sombra novamente está presente, criando uma atmosfera intimista e misteriosa para a foto. No fundo, por exemplo, não é possível distinguir ao certo o que é a vegetação de fato e o que é sombra por ela produzida.
Otto Steinert
Fotógrafo alemão, Otto Steinert nasceu em 1915, em Sarbruque, e morreu em 1978, em Essen. Foi um autodidata no âmbito da fotografia. Formado em medicina, foi médico na Segunda Guerra Mundial. Ao retornar do conflito, buscou estabelecer e profissionalizar sua fotografia. Foi um dos fundadores do grupo Fotoform, considerado o primeiro movimento de fotografia criativa internacional do pós-guerra. Em 1951, organizou a primeira de três exposições sob o título de “Subjektive Fotografie” (fotografia subjetiva), que explorava as potencialidades criativas e técnicas da fotografia.
Steinert encarava a fotografia como uma autorreflexão criativa, em que a realidade apresentada perde o seu significado original e se transforma numa forma metafórica. Exemplo disso é a fotografia abaixo:
Maske einer Tãnzerin, 1952
Essa foto brinca com os negativos, a duplicação e sobreposição das imagens. O contraste é bem forte e não é possível saber ao certo para que lado o indivíduo da imagem original estava olhando. A sobreposição transmite uma sensação de movimento, mas também de desorientação.

Die Baume Vor Meinem Fenster
A outra fotografia escolhida foi "Die Baume Vor Meinem Fenster". Olhando rapidamente pela primeira vez, parecem mãos de monstros saindo da terra, como se quisessem agarrar algo. Mas, olhando com mais atenção, percebemos que são apenas árvores desfolhadas - como indica a tradução livre do título: "As árvores fora da minha janela". Essa ilusão chama atenção e prende a visão na imagem. O contraste das árvores escuras com o fundo mais claro deixa a cena ainda mais dramática.
Claudia Andujar
Claudia Andujar é uma fotógrafa e ativista suíça, naturalizada brasileira. Na década de 1970, ela recebe uma bolsa da Fundação Guggenhein, instituição norte-americana, e posteriormente outra da Fapesp, para estudar os índios Yanomani, permanecendo entre eles durante cinco anos. A observação do modo de vida e das tradições Yanomani tem sido o fio condutor de sua atividade como fotógrafa desde então.
Sonhos Yanomani - Delírios do alucinógeno Yãkõana
A primeira foto (acima) escolhida transmite uma atmosfera onírica, que representa as visões que os homens da tribo tinham durante seus rituais devido ao uso do alucinógeno Yãkõana. O fundo granulado que mescla claros e escuros contribui para o cenário de sonho. Além do impacto estético da foto, a escolha também foi motivada por se tratar de um assunto atual, haja vista que os Yanomani foram vítimas de ataques recentes. Andujar dedicou grande parte do seu trabalho para dar voz a esse povo e, assim, garantir a sobrevivência de suas tradições.
Da série "A Sônia", São Paulo, 1971
A última fotografia escolhida traz imagens de uma mulher sobrepostas. A técnica utilizada é semelhante a de Otto Steinert em Maske einer Tãnzerin. Entretanto, há algumas particularidades: as imagens sobrepostas são diferentes, como é possível perceber pela posição da cabeça, e o tratamento de cor cria um fundo violeta em contraste com a figura feminina bem clara. Essa configuração de cores lembra muito os exames de radiografia.
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