Inserção no texto "Animação Cultural"
Inserção da fala do meu objeto, a lupa, no texto "Animação Cultural", de Vilém Flusser.
"(...) No fundo, a nossa Revolução não passa de inversão da relação 'homem-objeto'. Em vez de funcionarmos em função da humanidade, esta passa a comportar-se em função do nosso próprio funcionamento. (...)"
Com licença, senhora Mesa-redonda, mas peço humildemente a permissão para dar aqui o meu testemunho e salientar a necessidade de lutar pelo nosso reconhecimento. Primeiro, quero compartilhar com meus caros camaradas-objetos algumas situações dentre as quais eu, na condição de Lupa, sou submetida pelos homens. Eu carrego o fardo de mostrar os detalhes, aumentar a proporção de tudo aquilo que vejo, o que me causa tremendo desgaste - não deixo que isso transpareça, pois sou discreta. Assim, as pequenas coisas tornam-se grandiosas através de minha lente. E qual a retribuição que recebo por tudo isso? Nada, muitos nem se dão ao simples trabalho de limpar minha lente, desfeita essa que confesso, colegas, afeta diretamente minha autoestima. Sem mencionar aqueles descuidados que me esquecem jogada em uma gaveta qualquer ou colocam suas mãos sujas sobre mim. Eles não reconhecem minha importância e, muito menos, respeitam meus direitos. Quantos casos já ajudei a solucionar? Quantos detalhes sutis já mostrei? Até fogueiras eu já ajudei a acender! Mas mesmo assim, a humanidade não exalta minha utilidade e eficiência. Ultimamente, essa situação degradante tem sido ainda mais agravada com a utilização do zoom. E, perdoem-me os amigos celulares, a crítica não é pessoal, mas a qualidade desse aumento nem se compara a minha riqueza de detalhes. Assim, eu quase virei peça de museu. Portanto, minhas palavras reafirmam a necessidade de mudarmos essa relação tóxica e abusiva que a humanidade nos impõe. Merecemos o direito de sermos reconhecidos e bem tratados. E se o único caminho é a Revolução, que ela comece!
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